quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

“Ser o primeiro a...” e outras efemérides


São Vicente, primeira vila do Brasil! Puxa vida, isso quando o Brasil nem era assim... um Brasil. Seria algo mais como aquela terra fica no meio do caminho pro que realmente interessa.

Falando em coisas que interessam: qual é a do pessoal “dos primeiros”? Primeira hospital da Santa Casa, primeira vila, local de nascimento do patriarca, local de morte do fundador. Essa forma de pensar enraizada na nossa cultura leva muitas pessoas a pensar a História de uma forma puxa-saquista, chata, pentelha.

Hoje em dia não existe mais necessidade desse tipo de escrita. Vultos históricos a cada dia estão sendo desconstruídos (ou destruídos), mas tem gente que teima em voltar na mesma historinha do Martim Afonso de Souza lá em 1532.

Ao escrever, sabemos que temos um objetivo. Queremos impactar alguém, mudar a perspectiva sobre algo, estabelecer relações inteligentes e inteligíveis e, principalmente, sermos entendidos. Ao mesmo tempo, fomos acostumados que conteúdo é forma e não o contrário. Não basta pesquisar toneladas de informações se aquilo não vai ser útil prá ninguém.

Portanto, volto: qual é a utilidade em saber o lugar exato onde Brás Cubas está enterrado? O que vai mudar na vida de uma pessoa saber que São Vicente foi a primeira vila do Brasil? Esses fatos, essas efemérides podem ser ponto partida para uma análise com maior relevância.

É normal que as pessoas pensem a História dessa maneira. Ao fazer o curso de história, muitos alunos entram em choque; não conseguem ou nem tentam pensar de outra maneira. Ou melhor, provocar para que as pessoas ao redor deles ou que lêem seus textos tenham uma postura mais crítica sobre o seu passado e, consequentemente, a atualidade.

É aquela coisa: se o historiador/professor de História não der valor ao que faz, todo mundo vai continuar acreditando que o que fazemos é enrolá-los.

2 comentários:

  1. Boa Bruno. Ótimo comentário. É isso mesmo.
    Este é o PRIMEIRO texto que vejo falando sobre o assunto nessa linguagem.

    ResponderExcluir
  2. Bruno, o sr. é realmente um grande fanfarrão!
    Se acabarmos com as efemérides, os primeiros, os maiores e sililares a industria cultural não vai mais ter motivos periódicos para lançar seus produtos. Do mesmo modo, a casta de políticos profissionais não mais terá argumentos históricos para obter meritos políticos.
    Iriamos prejudicar todos esses caras, coitados deles...
    Mas por falar nesse assunto, ontem, em viagem, passei em Mogi das Cruzes, em frente a estátua do Braz Cubas (ou seria Brás Cubas?, questão altamente relevante. Pensei comigo "Já pensou se aqui nesta cidade aparecesse um 'historiador' que quisesse reinvindicar para ela tudo o que se refere àquele colonizador?". Teriamos uma guerra entre cidades-estado.
    Alcides

    ResponderExcluir